A trombose venosa é uma condição potencialmente grave, causada pela formação de coágulos sanguíneos dentro das veias, geralmente nas pernas. Esses coágulos podem interromper a circulação e, em casos mais severos, migrar para o pulmão, levando à embolia pulmonar.
Embora o risco de trombose seja baixo em mulheres jovens e saudáveis, o uso de anticoncepcionais hormonais combinados — aqueles que contêm estrogênio — pode aumentar a probabilidade do problema em certos perfis.
No entanto, nem todos os métodos contraceptivos têm o mesmo impacto sobre a coagulação. Conhecer os fatores de risco para trombose venosa e compreender quais métodos são mais seguros é fundamental para escolher uma opção eficaz e responsável.
O que é trombose venosa e como ela se forma
A trombose ocorre quando há um desequilíbrio entre os mecanismos que regulam a coagulação e a fluidez do sangue. Quando esse sistema falha, o sangue pode coagular indevidamente, formando trombos que bloqueiam o fluxo venoso.
Os principais fatores de risco incluem:
- Histórico familiar de trombose ou mutações genéticas (como fator V de Leiden);
- Tabagismo;
- Obesidade;
- Imobilização prolongada (ex.: cirurgias ou viagens longas);
- Uso de anticoncepcionais que contêm estrogênio.
Em uma mulher saudável, o risco anual de trombose é de aproximadamente 1 caso a cada 10.000 mulheres. Com o uso de pílulas combinadas, esse número pode subir para 3 a 9 casos por 10.000 mulheres/ano, conforme mostram estudos epidemiológicos.
Como o estrogênio influencia o risco de trombose
O estrogênio altera a composição do sangue, aumentando a produção de fatores de coagulação e reduzindo substâncias anticoagulantes. Esse efeito torna o sangue mais propenso à formação de coágulos.
Por isso, o risco de trombose é maior em mulheres com predisposição genética, obesidade, varizes, tabagismo ou idade mais avançada. Ainda assim, é importante colocar esse risco em perspectiva: a gestação eleva o risco para cerca de 29 casos por 10.000 mulheres/ano, e o pós-parto pode chegar a 300 casos por 10.000 mulheres/ano — ou seja, o uso de anticoncepcional combinado ainda representa um risco muito menor do que o próprio estado gestacional.
Métodos contraceptivos sem estrogênio: alternativas seguras e eficazes
Mulheres que desejam evitar o estrogênio — por precaução ou por contraindicação médica — podem contar com uma ampla gama de métodos sem estrogênio, que não aumentam o risco de trombose venosa. Entre os mais indicados estão:
- DIU hormonal (levonorgestrel) – atua localmente, liberando pequenas quantidades de hormônio diretamente no útero, sem interferir na coagulação sanguínea.
- Implante subdérmico (etonogestrel) – colocado sob a pele do braço, oferece proteção de até três anos com perfil seguro para quem tem histórico de trombose.
- DIU de cobre – livre de hormônios, ideal para quem prefere contracepção natural e de longa duração.
- Pílulas de progesterona isolada (minipílulas) – não contêm estrogênio e podem ser usadas por mulheres com fatores de risco cardiovascular.
Esses métodos têm eficácia semelhante aos combinados, com a vantagem de não aumentarem o risco de coagulação.
Importância da avaliação médica individualizada
A escolha do método contraceptivo deve sempre ser feita após uma avaliação ginecológica criteriosa. Cada paciente apresenta um perfil hormonal, histórico familiar e condições clínicas diferentes, o que torna a decisão única.
Além do risco cardiovascular, devem ser considerados aspectos como intensidade do fluxo menstrual, presença de endometriose, adenomiose, síndrome dos ovários policísticos e possíveis interações medicamentosas.
A personalização é essencial para garantir não apenas a eficácia contraceptiva, mas também a segurança e o bem-estar geral da mulher.
Sinais de alerta para trombose venosa
Mesmo com acompanhamento médico, é importante que a paciente reconheça os sintomas precoces de trombose. Os principais são:
- Inchaço súbito em uma perna;
- Dor local intensa ou sensação de peso;
- Vermelhidão e calor na região afetada;
- Falta de ar ou dor torácica (em casos de embolia pulmonar).
Diante desses sinais, a mulher deve buscar atendimento médico imediato, especialmente se estiver em uso de anticoncepcionais hormonais.
Conclusão: contracepção segura é aquela escolhida com responsabilidade
A trombose venosa é uma condição rara, mas que exige atenção e acompanhamento. Métodos sem estrogênio, como o DIU hormonal, o implante subdérmico e o DIU de cobre, são opções seguras e eficazes, inclusive para quem possui fatores de risco.
A decisão sobre o método ideal deve ser feita em conjunto com a ginecologista, após análise individualizada. A contracepção segura é aquela que considera não apenas a prevenção da gravidez, mas também a saúde vascular e o equilíbrio hormonal da paciente.
Referências
- Heit, J.A. (2015). Epidemiology of venous thromboembolism. Nature Reviews Cardiology, 12(8), 464–474.
- Lidegaard, Ø., et al. (2012). Venous thrombosis in users of non-oral hormonal contraception: follow-up study, Denmark 2001–10. BMJ, 344, e2990.
- Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG). (2023). Venous thromboembolism and hormonal contraception.
- Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer (INCA). Prevenção de trombose associada ao uso de contraceptivos hormonais.




