A menopausa é um marco fisiológico na vida da mulher que ocorre, em média, entre os 45 e 55 anos, caracterizando-se pela interrupção definitiva dos ciclos menstruais e pela queda progressiva dos níveis de estrogênio. Essa redução hormonal traz uma série de repercussões metabólicas, entre elas o aumento expressivo do risco de osteoporose — condição que fragiliza os ossos e eleva a probabilidade de fraturas.
A reposição hormonal na menopausa (ou terapia hormonal) é uma das estratégias mais estudadas e utilizadas para mitigar esses efeitos. Ela atua diretamente na reposição do estrogênio, contribuindo para o equilíbrio metabólico, o bem-estar geral e a proteção da saúde óssea.
Menopausa e perda óssea: o papel do estrogênio
Durante o período reprodutivo, o estrogênio exerce um papel essencial na manutenção da densidade mineral óssea. Ele regula a atividade dos osteoclastos — células responsáveis pela reabsorção do tecido ósseo — e estimula a formação de novo osso pelos osteoblastos.
Com a chegada da menopausa, essa regulação se perde. A deficiência estrogênica acelera a reabsorção óssea, reduz a absorção intestinal de cálcio e leva a um desequilíbrio no remodelamento ósseo. Estudos apontam que a mulher pode perder até 20% da massa óssea nos primeiros 5 anos após a menopausa, tornando-se mais suscetível a fraturas vertebrais e de quadril.
Reposição hormonal como aliada na prevenção da osteoporose
A terapia de reposição hormonal (TRH) atua diretamente sobre os mecanismos responsáveis pela perda de massa óssea. O estrogênio administrado restabelece o equilíbrio entre reabsorção e formação óssea, reduzindo o ritmo de perda mineral e aumentando a densidade óssea ao longo do tempo.
A reposição hormonal é considerada uma das abordagens mais eficazes para a prevenção da osteoporose em mulheres sintomáticas com menos de 60 anos ou com menos de 10 anos desde a última menstruação, desde que não haja contraindicações clínicas.
Além do efeito protetor sobre o esqueleto, a TRH também contribui para a melhora de sintomas como ondas de calor, ressecamento vaginal e distúrbios do sono — fatores que, indiretamente, favorecem o equilíbrio metabólico e o bem-estar geral.
Riscos, benefícios e individualização do tratamento
Embora os benefícios da reposição hormonal na menopausa sejam amplamente reconhecidos, a decisão sobre sua indicação deve ser individualizada. O uso de hormônios exógenos pode estar associado a riscos, como trombose venosa profunda, acidente vascular cerebral (AVC) e aumento do risco de câncer de mama, especialmente em tratamentos prolongados ou iniciados após os 60 anos.
Por esse motivo, é essencial uma avaliação médica detalhada antes do início da terapia. O histórico pessoal e familiar, o tipo de hormônio utilizado (estrogênio isolado ou combinado com progesterona), a via de administração (oral, transdérmica, vaginal) e a dose devem ser cuidadosamente ajustados conforme o perfil clínico da paciente.
Alternativas e estratégias complementares
Quando a reposição hormonal não é indicada — por contraindicações médicas ou preferência pessoal — existem outras formas de proteger a saúde óssea. Entre elas estão:
- Atividade física regular, especialmente exercícios de impacto e resistência;
- Suplementação adequada de cálcio e vitamina D;
- Manutenção de peso saudável;
- Evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool;
- Uso de medicamentos específicos para osteoporose, como bisfosfonatos e moduladores seletivos dos receptores de estrogênio, quando prescritos por um médico.
Essas estratégias, combinadas a uma alimentação equilibrada e acompanhamento médico periódico, contribuem para a prevenção de fraturas e manutenção da qualidade de vida.
Conclusão
A reposição hormonal na menopausa é uma ferramenta valiosa na prevenção da osteoporose e na manutenção da saúde global da mulher. Contudo, não deve ser vista como uma solução universal. A avaliação personalizada, o acompanhamento contínuo e a adoção de hábitos saudáveis são determinantes para alcançar resultados seguros e duradouros.
Com o avanço das pesquisas e o desenvolvimento de terapias mais individualizadas, a medicina tem possibilitado que mulheres atravessem a menopausa com mais equilíbrio, qualidade de vida e proteção óssea.
Referências
- North American Menopause Society (NAMS). The 2023 position statement on hormone therapy. Menopause, 2023; 30(5): 573–589.
- Gompel A, Lobo RA. Hormone therapy and osteoporosis. Climacteric, 2020; 23(6): 555–561.
- Cummings SR, et al. Estrogen replacement therapy and bone density in postmenopausal women. N Engl J Med, 1995; 332: 767–773.
- Ministério da Saúde (Brasil). Diretrizes para prevenção e tratamento da osteoporose. Brasília: MS, 2022.
- Kanis JA, et al. Diagnosis of osteoporosis and assessment of fracture risk. Lancet, 2002; 359: 1929–1936.




