O uso de anticoncepcionais hormonais é amplamente difundido no mundo e tem papel fundamental no controle da natalidade, no manejo de sintomas ginecológicos e na promoção da autonomia reprodutiva feminina. No entanto, um dos temas que mais gera dúvidas e insegurança entre as pacientes é a relação entre anticoncepcional e risco de trombose venosa.
Mas será que toda mulher que usa pílula corre o mesmo risco? A resposta é não. Neste texto, você vai entender o que a ciência diz sobre esse assunto, quais são os fatores que realmente aumentam o risco e como tomar decisões mais seguras junto ao seu ginecologista.
O que é trombose?
A trombose venosa profunda (TVP) é a formação de um coágulo sanguíneo (trombo) no interior de uma veia, geralmente nas pernas. Esse trombo pode causar dor, inchaço e, em casos graves, se desprender e migrar para o pulmão, causando uma complicação conhecida como embolia pulmonar, que pode ser fatal.
Anticoncepcional hormonal e o risco de trombose
A maioria dos anticoncepcionais combinados orais (ACO) contém dois hormônios: estrogênio e progestagênio. O estrogênio é o principal responsável por aumentar o risco de trombose, pois pode alterar a coagulação do sangue, tornando-o mais propenso à formação de coágulos.
No entanto, esse risco varia de acordo com o tipo de anticoncepcional, o perfil hormonal, a dose de estrogênio e, principalmente, os fatores individuais de cada paciente.
Qual é o risco real?
- Mulheres que não usam anticoncepcional hormonal têm um risco médio de trombose de 2 casos para cada 10 mil mulheres por ano.
- Mulheres que usam anticoncepcional combinado oral têm um risco médio de 5 a 12 casos para cada 10 mil mulheres por ano, dependendo da formulação.
Apesar de haver um aumento relativo, o risco absoluto ainda é considerado baixo para a maioria das mulheres saudáveis e jovens.
Quem realmente está em risco?
Embora o uso do anticoncepcional hormonal aumente o risco de trombose, esse risco se torna mais relevante em mulheres com fatores adicionais, como:
- Histórico pessoal ou familiar de trombose;
- Trombofilias hereditárias (como mutação do fator V de Leiden ou deficiência de proteína C/S);
- Tabagismo, especialmente em mulheres acima de 35 anos;
- Obesidade;
- Imobilidade prolongada (viagens longas, cirurgias);
- Hipertensão não controlada;
- Uso concomitante de outros medicamentos que alteram a coagulação.
Nessas situações, é comum que o ginecologista avalie outras opções de contracepção, como anticoncepcionais sem estrogênio (minipílula, DIU hormonal, implantes) ou até métodos não hormonais.
E os anticoncepcionais que não contêm estrogênio?
Anticoncepcionais que contêm apenas progestagênio (como o DIU hormonal, implante subdérmico, minipílula e injeção trimestral) não apresentam aumento significativo no risco de trombose. São alternativas seguras para mulheres que têm contraindicação ao uso de estrogênio.
O que considerar ao escolher um anticoncepcional?
A escolha do método contraceptivo ideal deve ser individualizada, levando em conta:
- Histórico de saúde pessoal e familiar;
- Estilo de vida (como tabagismo e sedentarismo);
- Exames laboratoriais, quando necessário;
- Preferência e objetivos da paciente.
É papel da ginecologista orientar com clareza os riscos e benefícios de cada método, esclarecendo dúvidas e combatendo mitos que, muitas vezes, afastam as mulheres de métodos seguros e eficazes.
Conclusão
O uso de anticoncepcional e o risco de trombose são temas que merecem atenção, mas é fundamental avaliar cada caso de forma individualizada. O risco existe, mas é baixo na maioria das mulheres saudáveis e pode ser ainda mais reduzido com escolhas contraceptivas seguras e acompanhamento médico regular.
Evitar o uso da pílula por medo, sem uma avaliação adequada, pode levar a métodos inseguros ou desinformação. Por isso, a orientação médica continua sendo o melhor caminho.
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