Anticoncepcionais e trombose: o que a ciência mostra

O uso de anticoncepcionais hormonais é amplamente difundido entre mulheres em idade reprodutiva, não apenas pela eficácia na prevenção da gravidez, mas também pelos benefícios adicionais, como melhora da acne, regulação dos ciclos menstruais e controle de sintomas de síndrome pré-menstrual.

No entanto, a relação entre anticoncepcionais e a trombose (risco cardiovascular) tem sido alvo de estudo e debate há décadas. A influência de estrogênios e progestagênios sobre o sistema cardiovascular depende de diversos fatores, incluindo o tipo de hormônio, a dose utilizada e o perfil de saúde da paciente.


Como os anticoncepcionais atuam no organismo

Os anticoncepcionais hormonais combinados (estrogênio + progesterona) agem inibindo a ovulação e promovendo modificações no muco cervical e no endométrio. Apesar de serem altamente eficazes, os hormônios exógenos podem interferir na coagulação sanguínea, na pressão arterial e no metabolismo lipídico.

O estrogênio, em especial, está associado ao aumento da síntese de fatores de coagulação hepáticos, o que eleva o risco de trombose venosa profunda (TVP) e embolias em algumas usuárias. Já a progesterona pode influenciar a resistência à insulina e o perfil lipídico, dependendo de sua formulação.


Quem apresenta maior risco cardiovascular

Embora o risco absoluto seja baixo em mulheres jovens e saudáveis, o uso de anticoncepcionais hormonais pode se tornar problemático quando associado a determinados fatores de risco:

  • Tabagismo, especialmente acima dos 35 anos;
  • Hipertensão arterial;
  • Obesidade e sedentarismo;
  • Diabetes mellitus;
  • Histórico pessoal ou familiar de trombose;
  • Dislipidemias.

Nesses casos, o uso de anticoncepcionais combinados pode aumentar significativamente o risco de eventos tromboembólicos e complicações cardiovasculares, motivo pelo qual a avaliação médica antes da prescrição é indispensável.


Anticoncepcionais de menor risco cardiovascular

Nos últimos anos, novas formulações foram desenvolvidas com o objetivo de reduzir os efeitos adversos cardiovasculares.

Entre as opções mais seguras destacam-se:

  • Anticoncepcionais apenas com progesterona, como pílulas de uso contínuo, implantes subdérmicos (etonogestrel) e o DIU hormonal (levonorgestrel), que não contêm estrogênio e, portanto, não aumentam o risco de trombose.
  • Métodos não hormonais, como o DIU de cobre, ideais para mulheres com contraindicação ao uso de hormônios.

Essas alternativas são especialmente indicadas para mulheres com histórico de trombose, enxaqueca com aura, tabagismo ou doenças cardiovasculares.


A importância da avaliação médica individualizada

Antes de iniciar ou trocar o método contraceptivo, é fundamental realizar uma avaliação médica detalhada, incluindo histórico clínico, fatores de risco e exames complementares.

A escolha do método ideal deve equilibrar eficácia, segurança e bem-estar, levando em consideração o perfil cardiovascular da paciente. Em muitos casos, a simples substituição da formulação hormonal já reduz o risco e mantém a eficácia contraceptiva.


Conclusão

O risco cardiovascular associado ao uso de anticoncepcionais existe, mas é altamente variável e, na maioria das mulheres saudáveis, permanece baixo. A decisão sobre qual método utilizar deve sempre ser compartilhada entre paciente e médica, considerando fatores individuais e possíveis contraindicações.

A abordagem personalizada garante segurança, conforto e tranquilidade no uso de contraceptivos a longo prazo.


Referências

  • World Health Organization (WHO). Medical eligibility criteria for contraceptive use. 5th ed. Geneva: WHO, 2015.
  • North American Society for Pediatric and Adolescent Gynecology (NASPAG). Hormonal contraception and cardiovascular risk. J Pediatr Adolesc Gynecol, 2021.
  • Lidegaard Ø, et al. Hormonal contraception and risk of venous thromboembolism. N Engl J Med, 2012; 366(24): 2257–2266.
  • Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Manual de anticoncepção, 2022.

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